Maria do Carmo é a protagonista de mais um episódio do projeto “Pessoas centenárias de Vieira do Minho” – um projeto CAVA.
[Com voz de Filipe de Oliveira]
Desfiam-se memórias, num novelo de tempo! E, numa viagem até 23 de dezembro de 1923, Maria do Carmo Martins Rodrigues Pereira refere o seu nascimento, no lugar da Veiga, em Salamonde, no concelho de Vieira do Minho.
A escola primária, como conta, também frequentou em Salamonde, terra que guarda no coração e onde, ainda hoje, com 100 anos, vive e gosta muito.
“A minha terra, a minha família muito amiga, os meus netinhos, os bisnetos e trinetos”, realça a centenária vieirense.
Recorda os pais, “muito trabalhadores” e uma irmã do primeiro casamento do seu pai, “que ficou viúvo muito cedo”.
Maria do Carmo também casou e tem um único filho que lhe deu a alegria de ser avó, bisavó e trisavó. E sem precisar de grande auxílio, recorda o nome de todos, sempre com um sorriso no rosto.
Ficou viúva, em agosto de 2002, “no dia em que se fazia a grande festa de Salamonde”, relembra com tristeza.
Da infância, partilha que fez a 4.ª classe, com a professora D. Esperança da Glória, e que brincava com o pouco que havia. “Fazíamos uma roda todos”.
Em casa, também brincava com a irmã “que fazia bonequinhos de pano”.
Mas a vida não se fazia só de brincadeiras, e nem só nos bancos da escola se trabalhava. Também no campo, onde a vida era dura, colaborava como podia. “Íamos sachar todos para o campo” e quando chegava a casa, muitas vezes, “cozia feijão”, mas sempre com a recomendação dos mais velhos: “Não te queimes! Não te queimes!”.
Nem só de amarguras fez a sua vida, pois recorda o momento mais feliz e que foi o nascimento da primeira neta – a Manuela, de quem fala com um sorriso cheio.
Com mãos de fada, gostava de fiar, fazer meias, colchas para as camas e rendinhas. “Fiz o enxovalzinho para as minhas netas”, conta.
Continuam a desfiar-se memórias. Umas mais longínquas, ainda do “tempo do Salazar”, onde a vida era bem difícil, e outras mais recentes, como a comemoração dos 100 anos.
E como foi a festa? “Bonita”, garante Maria do Carmo, “com a família e muitas individualidades, algumas que conhecia, outras não”.
Um dia feliz e tão precioso, que ficará na memória de todos.
Que perdurem a alegria e a ternura de Maria do Carmo, uma vieirense de alma e coração.