Um em cada sete portugueses que vive com obesidade não reconhece ter a doença, revela o estudo Saúde que Conta 2025, que será apresentado hoje, 10 de dezembro, no WPP Campus, em Lisboa, pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP NOVA). A investigação, que analisou a relação entre o nível de literacia em saúde e obesidade, conclui que existe um défice significativo de perceção e conhecimento sobre esta condição crónica em Portugal, o que representa uma barreira à sua correta gestão e tratamento. 

O estudo transversal, que contou com 3.333 adultos residentes em Portugal, concluiu que, embora 90,7% dos inquiridos considerem a obesidade uma doença crónica que requer tratamento, existe uma lacuna significativa no conhecimento e na autoperceção. No inquérito, disponibilizado online, apenas 47,5% souberam identificar o critério correto de diagnóstico da obesidade (um Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30). Adicionalmente, embora 35,5% dos participantes preenchessem os critérios para obesidade com base no seu IMC, apenas 20,4% reportaram ter a doença.  

A investigação encontrou uma diferença estatisticamente significativa nos níveis de literacia em saúde entre pessoas com e sem obesidade. Numa escala de 0 a 50, em que os scores mais elevados correspondem a um nível mais elevado de literacia em saúde, a pontuação média foi de 32,47 no grupo de pessoas com obesidade, enquanto o grupo sem obesidade atingiu uma média de 34,96. 

O estudo demonstrou ainda que um maior nível de literacia em saúde está diretamente correlacionado com maior rendimento e nível educacional, menor IMC e maior consciência sobre a obesidade (Obesity Awareness) e melhor perceção da saúde geral, saúde mental e qualidade de vida. 

As conclusões sublinham a importância do desenvolvimento de políticas de Saúde Pública que se foquem na capacitação dos cidadãos, permitindo-lhes gerir de forma mais eficaz a prevenção e o tratamento da obesidade, uma condição multifatorial com profundos impactos físicos, psicológicos e económicos. 

Sobre os resultados, Ana Rita Pedro, investigadora da ENSP NOVA e coordenadora do estudo, afirma: “Estes resultados mostram-nos um paradoxo preocupante: a maioria das pessoas sabe que a obesidade é uma doença crónica que precisa de tratamento, mas uma parte significativa de quem vive com ela não se reconhece como uma pessoa com obesidade. Esta dissonância, aliada a baixos níveis de literacia em saúde, cria um obstáculo gigante ao primeiro passo de qualquer tratamento: o reconhecimento. Sem ele, a pessoa não procura ajuda nem adere a estratégias de gestão da sua condição. É imperativo capacitar os cidadãos com mais e melhor informação.”